Alunas do Ismac realizam sua primeira apresentação de dança nesta quinta-feira
As alunas da bailarina Lisa Lima do
Instituto para Cegos Florivaldo Vargas (Ismac) eram só alegria na aula desta
segunda-feira (dia 6 de maio). Foi o último ensaio para a primeira apresentação
de dança do ventre de suas vidas. As animadas bailarinas vão se apresentar nas
comemorações do Dia das Mães da próxima quinta-feira, dia 9 de maio, às 14
horas, na sede do Instituto.
Uma das mais entusiasmadas era Zenaide
Dias da Silva Rocha, de 73 anos. Zenaide tem um pequeno resíduo de visão,
enxerga as cores de perto mas não reconhece fisionomias. Ela não é estreante na
dança, já fez aulas no CAP-DV (Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento ao
Deficiente Visual) e é atriz, tendo participado por cinco anos do Grupo Luzes. “Gosto
muito de um palco. Frequento o Ismac há vários anos e a gente pedia pra colocar
dança pra nós aqui. Aí a Lisa veio se apresentar aqui um dia e ficou. A dança
faz bem pra tudo, pro físico, pra autoestima. É alegria, um meio de união, de
conhecer pessoas diferentes”.
Apontada pelas colegas como a mais
desinibida, Maria Andrea Pereira dos Santos, 47 anos, é atleta e começou no
judô quando ficou cega, aos 30 anos, por conta da doença de Stargardt. Já
participou e foi campeã em várias competições, recebia o bolsa-atleta. Hoje
pratica “goalball”, esporte criado na 2ª Guerra Mundial para os soldados que
ficaram cegos. “No judô, cada vitória era uma superação, e cada derrota, um
aprendizado. O esporte fez com que eu encarasse a deficiência não como um muro,
mas apenas um obstáculo que eu podia vencer”.
A dança surgiu como uma alegria em sua
vida. “Desde a época em que eu enxergava eu achava a dança do ventre linda. Daí
a Lisa apareceu aqui com as aulas e eu fiquei ‘doida’. A dança me dá uma
sensação de liberdade, de alegria, é tudo de bom. É uma coisa que eu gosto
muito. Adoro dançar”.
A advogada Tânia Regina Cunha, de 63
anos, é um exemplo de superação, de que o deficiente visual pode ter uma
profissão e trabalhar. Ela perdeu a visão aos 29 anos por conta de uma doença. “Eu
comparo a cegueira a um luto. A sua identidade muda e você tem um tempo de luto
para assimilar isso”.
Tânia era professora, e depois que
perdeu a visão fez o curso de Direito, foi aprovada em concurso para o Tribunal
Regional Eleitoral (TRE) e trabalhou como analista judiciária e chefe da
Jurisprudência. Hoje aposentada, trabalha como advogada na área cível e do
direito das pessoas com deficiência e participa das aulas de dança do ventre no
Ismac.
“Eu frequento o Instituto desde 1981,
quando fiz o curso de Braille. Gosto muito de dançar, me desestressa, me faz
sentir melhor. A dança é uma coisa mágica, me deixa à vontade, mais leve, exerce
um magnetismo na minha personalidade. Sempre tive vontade de aprender, é uma
coisa muito diferente. E a professora Lisa tem uma doçura inigualável com as
alunas, um jeito especial de tratar a gente, que me encanta”.
A assistente social do Ismac, Renata
Araújo Teixeira, disse que trouxe a dança do ventre para a instituição devido
ao grande número de mulheres atendidas e para oferecer a elas algo mais
dinâmico. “A dança é uma forma de reabilitação para a pessoa com deficiência. A
gente não tinha como contratar uma pessoa, daí a Lisa aceitou dar as aulas como
voluntária. Percebi uma melhora na autoestima das participantes, um
empoderamento enquanto mulheres. Participei das primeiras aulas com elas para
auxiliar a professora Lisa com as deficientes. Foi desafiador para ela, mas ela
tirou de letra. Lisa foi ensinando essas mulheres e ficamos surpresa pela
desenvoltura delas, muitas desenvolviam os passos melhor que eu, é emocionante”.
Renata afirma ser importante para o
aprendizado das mulheres com deficiência visual uma abordagem diferenciada no
ensino da dança. “Gostei muito da relação da Lisa com elas. O cego conhece a
alma das pessoas pela voz. Elas gostam de atenção, e eu vejo que a Lisa se adaptou
bem. A gente fechou uma turma boa aqui, teve bastante procura, é uma novidade
para elas que a gente nem acreditava que era possível. Isso é muito bacana”.
Lisa explica que busca ensinar os
fundamentos da dança do ventre para as deficientes visuais por meio da voz e do
toque. “Às vezes eu fazia um movimento e tinha que especificar, falando.
Algumas conseguiam, outras não tinham consciência corporal nenhuma. Aí eu
fazia-as pegarem na minha cintura para sentir o movimento, e descrevia também
com palavras, colocando apelido nos movimentos para elas poderem identificar
cada um deles”.
A voz é um aliado importante para a
professora com a turma do Ismac. “Aqui estou aprendendo a falar, aqui eu tenho
que falar com elas. Primeiro tenho que vivenciar em mim para poder passar para
elas, tenho que me colocar no lugar delas, por isso às vezes fecho meus olhos
para ouvir o que estou falando e sentir como estou dançando. Acho que eu tenho
uma voz tranquila, elas parece que gostam, pelo tom de voz elas sentem o
carinho. Tenho que ponderar o tempo todo minha voz, pelo meu tom elas sabem o
que têm que fazer”.
Lisa já trabalhava com cadeirantes e
pessoas com mobilidade comprometida, mas com deficientes visuais é sua primeira
vez. “São experiências novas que acrescentam, não só no meu trabalho, como
profissional e artista, mas como ser humano. É um trabalho que faz bem pra
alma, e é feito com muito amor”.
Para a primeira apresentação, Lisa vai
trazer algumas de suas alunas do Estúdio, não deficientes, para ajudar na
maquiagem das estreantes e para registrar este momento tão importante com fotos
e vídeos. Lisa também vai fazer uma audiodescrição antes da apresentação,
falando o nome das alunas e suas cores de roupas, para poderem ser identificadas
pelo público. As roupas e adereços que elas vão usar também foram doadas por
alunas do Estúdio Lisa Lima e de outros estúdios de dança.
As instruções dadas pela professora Lisa
para as alunas no último ensaio antes da primeira apresentação já demonstram a
importância de transmitir boas energias ao público. “Desejo que vocês passem
muita alegria com a vibração de vocês. Por meio da dança vocês podem reverter o
processo de tristeza e problemas das pessoas. Vamos espalhar alegria e boas
energias. É um prazer estar aqui e trabalhar com vocês”.
O resultado deste primeiro trabalho,
iniciado em janeiro deste ano no Ismac, pode ser conferido na próxima quinta-feira,
dia 9 de maio, às 14 horas, no pátio do Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos
Florivaldo Vargas (Ismac), que fica na Rua 25 de Dezembro, 262, Centro. Boa
sorte, mulheres lindas e queridas!
Que lindo o trabalho voluntário da Lisa Lima. E lembrar que começou com um pedido meu. ...Fico feliz com o resultado
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